O meu amigo Larry Appelbaum, crítico de jazz, ensaísta e radialista norte-americano que tive a oportunidade de conhecer durante a realização do Jazz em Agosto de 2005 – e que é também arquivista especializado em jazz na Biblioteca do Congresso dos EUA (uma profissão sem dúvida invejável!) – acaba de me enviar uma mensagem em que me dá conta de que começaram a ser colocadas no Flickr, pela Biblioteca, as primeiras 219 fotos da colecção integral de William P. Gottlieb, famoso fotógrafo de jazz norte-americano!
Uma notícia que gostaria de partilhar convosco e que vale bem uma demorada visita aeste endereço da Internet.
Um regalo!
Actualização (01.08.10): segundo me informa o próprio Appelbaum, esta primeira grande escolha de fotos foi feita pelo próprio Gottlieb para a reedição do seu livro The Golden Age of Jazz, que se encontra completamente esgotado. Além disso, Appelbaum revela também que a Biblioteca do Congresso irá colocar no Flickr mais 100 fotos de duas em duas semanas, até que a colecção fique completa!
Actualização (14.08.10): a colecção acaba de ser acrescentada de mais 100 fotos! A promessa está a ser cumprida.
Como é habitual todos os anos, a programação de Agosto de “Um Toque de Jazz”, será inteiramente preenchida com a repetição de alguns programas anteriormente transmitidos. Neste caso e sendo o Verão uma época habitualmente escolhida para a realização de grandes festivais de jazz entre nós, vem a propósito relembrar o que foram alguns dos mais interessantes concertos integrados na edição do ano passado do histórico Estoril Jazz.
Assim, voltaremos a ouvir os grupos de David Murray e da cantora Roseanna Vitro; o quinteto do multi-instrumentista James Carter; o novo quinteto do contrabaixista Christian McBride; e, ainda, a Mingus Big Band, uma das formações instrumentais que recupera o grande repertório de um mestre: Charles Mingus.
Por outro lado, outros concertos que se distinguiram na temporada de 2008, foram os realizados pelo quinteto do saxofonista Marcus Strickland, no Guimarães Jazz desse ano, e pelo trio de Rabih Abou-Khalil e Joachim Kuhn, que teve lugar na Culturgest em Lisboa.
Um Toque de Jazz é transmitido aos Domingos, das 23:05 às 24:00, na Antena 2 podendo ser ouvido em FM ou ainda aqui via webcast. Após a sua transmissão, os programas passam a estar disponíveis, também via Internet, na página de arquivos multimédia da Antena 2.
Domingo, 01.08.10 – XXVIII Estoril Jazz 2009 (1): o trio do pianista Jon Meyer, em 27.06.09; e o quarteto “Black Saint” do multi-instrumentista David Murray, em 03.07.09. GravaçõesProJazz.
Domingo, 08.08.10.10 – XXVIII Estoril Jazz 2009 (2): o trio da cantora Roseanna Vitro, com o convidado especial Kenny Werner (piano), em 27.06.09; e o quinteto do multi-instrumentistaJames Carter, em 26.06.09. Gravações ProJazz.
Domingo, 15.08.10 – XXVIIIEstoril Jazz 2009 (3): o quinteto “Inside Straight” do contrabaixista Christian McBride, em 05.07.09; e o septeto Mingus Dinasty, em 04.07.09. Gravações ProJazz.
Domingo, 22.08.10 – o Quinteto do saxofonista afro-americano Marcus Strickland, com Jason Palmer (trompete), David Bryant (piano), Luques Curtis (contrabaixo) e John Davis (bateria) no Guimarães Jazz 2008 em 18.11.08. Repetição.
Domingo, 29.08.10 – o Trio de Rabih Abou-Khalil (Oud) e Joachim Kühn (piano) com Jarrod Cagwin (bateria) no Grande Auditório da Culturgest (Lisboa) em 19.01.08. Repetição.
Prestes a completar em 2011 vinte anos de idade, a última edição de Jazz no Parque realizou-se como sempre no agradável ambiente do court de ténis dos Jardins da Fundação Serralves, desta vez com condições de tempo verdadeiramente excepcionais, convidativas a passar, em três agradáveis sábados seguidos, hora e meia de música sempre tornada aliciante pela dose de imprevisibilidade que está na sua génese, independentemente da corrente estética representada.
Talvez por isso (mas não só), o recinto esteve nestes fins de tarde de Julho repleto de um público que cada vez mais vem acorrendo em maior número, o que só pode deixar antever a manutenção ulterior (e novos aniversários redondos) de um evento que já entrou nos hábitos culturais dos amadores de jazz nortenhos. É que, para além das condições envolventes, sem dúvida se revelavam promissores os concertos e as várias presenças musicais que constituíam este ano um cartaz habitualmente ecléctico. E se, por vezes, neste tipo de manifestações musicais realizadas no campo do jazz, nem sempre as expectativas correspondem por inteiro às melhores intenções de quem produz e programa, em não raros casos isso fica a dever-se a um certo e passageiro abaixamento de forma de tal ou tal músico, às imprevistas contingências da captação sonora ou ao cansaço provocado pela sucessão de concertos e viagens de uma tournée.
De tudo isto se passou um pouco, por razões diferentes, em cada um dos concertos que este ano faziam parte do cardápio do Jazz no Parque, cuja cobertura crítica desta vez me deu jeito abordar pela ordem inversa da sua cronologia.
Diria então, para começar, que talvez a edição deste ano do Jazz no Parque tenha terminado da melhor maneira, com a participação de um quinteto potencialmente de luxo constituído por músicos muito experientes pertencentes a gerações próximas, sendo o baterista Billy Hart o mais veterano de todos e o contrabaixista Drew Gress um (pouco) mais tardio nestas andanças. Chamava-se, este quinteto, Contact, contava ainda com a prestigiada participação de Dave Liebman (saxofones soprano e tenor), John Abercrombie (guitarra) e Marc Copland (piano), ou seja, gente que há muito se conhece pessoal e musicalmente e cujos frequentíssimos cruzamentos e combinações se têm verificado ao longo do tempo em formações instrumentais as mais diversas, lideradas por uns e por outros.
Não se estranhará assim que o concerto tenha decorrido com aquela naturalidade e familiaridade musical de quem há muito se conhece e que, por isso mesmo, até os poucos momentos musicalmente menos coesos tenham sido resolvidos de forma imperceptível, pela oportuna intervenção deste ou daquele músico. Sob a direcção ou responsabilidade, mais ou menos assumida, do pianista Marc Copland, o concerto foi totalmente preenchido com repertório retirado do primeiro CD gravado (por este quinteto em concreto) para a editora independente alemã Pirouet, disco intitulado Five Plus One, recentemente editado.
A primeira surpresa que o concerto me provovou – para além da sua qualidade intrínseca, quase ao nível e no seguimento do que lhe conhecia da edição discográfica já referida – terá sido a opção, relativamente “tradicional” (porque um pouco à revelia do que hoje é prática mais habitual no jazz contemporâneo) por um sistema de funcionamento musical há muito conhecido do jazz clássico e clássico-moderno – o tradicional esquema tema-variações-tema – portanto, sem particular empenhamento na componente do desenvolvimento temático ou da sua partição em eventos contrastantes, criada através de combinações e associações instrumentais diversificadas e seccionadas, e assim deixando para um plano secundário ou inexistente o investimento na escrita instrumental ou mesmo a (ilusão da) composição organizada em tempo real.
A prová-lo, por exemplo, o risco da presença concorrente de dois instrumentos harmónicos (piano e guitarra) nem sempre me pareceu ter sido resolvido da melhor maneira, com a guitarra de John Abercrombie a ficar com frequência “entre parêntesis” ou sem intervenção afirmativa e convincente, embora prejudicada já de si por uma captação sonora algo deficiente. Os mesmos problemas de equilíbrio sonoro deixaram bastas vezes sem destaque ou transparência significativa o fantástico jogo de vassouras em que Billy Hart é exímio, em detrimento da presença excessiva das baquetas e dos címbalos.
Os melhores momentos do concerto foram-nos assim proporcionados pelo impressionante pulsar e regularidade de Drew Gress (mesmo num contrabaixo que não era o seu e portanto lhe era estranho em termos de “envolvimento físico”); pela permanente generosidade e expressividade emocional (Lost Horizon, Four on One) de um Dave Liebman que sempre vi dar tudo o que tem em palco; e pela delicadeza e belíssimo sentido harmónico impressionista de Marc Copland (Retractable Cell, Childmoon Smile), moderno quando necessário e até “minimal” (You and The Night and The Music), e clássico quando a música lho pedia (Like it Never Was). Tratando-se da derradeira actuação de uma esgotante tournée de seis concertos seguidos em países diferentes e nas vésperas do regresso aos States, deve dizer-se, em abono da verdade, que o grupo jamais deixou de se entregar, com profissionalismo e talento, à criatividade improvisativa que se lhe esperaria.
Redonda era também a efeméride que no sábado anterior se comemorara em palco, já que há 20 anos que dois grandes músicos do jazz ibérico – Bernardo Sassetti e Perico Sambeat – se conhecem e tocam juntos (embora de forma naturalmente espaçada). Foi isso que Sassetti fez questão de informar os espectadores quando apresentou os seus fiéis companheiros de trio – Carlos Barretto (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria) – e o convidado especial Perico Sambeat, recordando ao mesmo tempo que já há 19 anos (!) se apresentara pela primeira vez em Serralves, na primeira edição de Jazz no Parque.
Foram sem dúvida estes dezanove e mais alguns anos de uma carreira sempre em ascensão que colocaram no primeiro plano do jazz português e internacional este jovem pianista de transcendente talento, compositor entre os maiores e improvisador entre os mais imaginativos, e cuja personalidade integral de músico se foi construíndo na prática de uma música que sempre ele procurou dominar na descoberta progressiva dos seus mistérios, primeiro na companhia de alguns outros nomes maiores do nosso jazz e depois na opção por um percurso individual universalmente reconhecido.
A minha maior curiosidade perante este novo concerto pelo trio de Sassetti (agora acrescentado por Perico Sambeat) era a de saber se se confirmariam ou não algumas reticências que me provocara a audição atenta do seu último disco a trio, recentemente lançado a público em concerto lisboeta do CCB, a que também assisti.
Sendo naturalmente evidente que a simples mudança de contexto instrumental implicaria uma correspondente transformação na música criada em palco – mesmo que não desfeita a eficaz e laboriosamente construída “unidade de pensamento e acção” do trio de Sassetti (que era ali parte integrante e substancial do quarteto) ou tornando-se totalmente abusiva e desadequada qualquer alegação de “intruso” aposta (por absurdo!) ao grande saxofonista valenciano, ele próprio frequentador habitual deste contexto musicalmente tão rico – o certo é que, aqui e ali, se revelaram como não sendo de facto casuais certas mudanças conceptuais que venho detectando na música mais recente de Bernardo Sassetti.
Deste modo, o espírito de aventura e o gosto pelo risco que sempre caracterizaram o jazz do grande pianista e que amiúde nos faziam remexer de entusiasmo na cadeira parecem hoje (quanto a mim cedo demais, dada a notória juventude e energia do músico) tenderem a substituir-se, a espaços, pela conformidade menos estimulante de uma música que exige menos do ouvinte (e, por tabela, do criador!) e que parece constrangida a formas e modos à partida tidos por consensuais e porventura indo ao encontro de gostos transversais de públicos pouco dados a inquietações e sobressaltos.
Seja como for e mesmo parecendo-me Perico Sambeat aqui e ali “contaminado” no seu habitual fulgor perante a música que o rodeava e que não parecia de molde a fazer-lhe brotar arrebatamentos que tão bem lhe conhecemos (e mesmo algo perplexo e absorto em certos momentos do concerto: Magic Doors, O Princípio), o certo é que o concerto foi crescendo em intensidade criativa e em brilhantismo instrumental, com a provável excepção de um Alexandre Frazão que terá “explodido” bem menos do que é costume.
Assim, para além de um Carlos Barretto de sonoridade gloriosa e “puxada” vigorosa, capaz de fazer renascer e tornar realidade presente as memórias musicais de um passado recente, tanto Bernardo Sassetti como Perico Sambeat foram reconfigurando e articulando solos individuais e confrontos musicais estimulantes, como no diálogo progressivamente complexo de Um Dia Através do Vidro, na swingalhada frenética de uma versão bem construída de Time For Love (Johnny Mandel), na beleza inconfundível de um dos maiores standards originais de Sassetti (Algumas Coisas Não Mudam) ou na desbunda bem gozada de Bemsha Swing, um clássico eminentemente monkeano.
Por último e terminando finalmente pelo princípio, o esperado concerto pelo trio do pianista Vijay Iyer, que inaugurou o ciclo, acabou por se transformar, para o escriba, num momento de perplexidade difícil de explicar. Sendo indiscutível reconhecer, sem margem para hesitações, que, mais ainda do que as incidências colaterais atinentes aos músicos (e referidas no início desta crónica), o crítico passe por momentos de menor sensibilidade e clarividência na descoberta dos mistérios da criação, o facto é que o concerto de Iyer, um dos mais importantes e originais pianistas de jazz do momento, cuja actuação eu próprio aguardadava e antecipava com entusiasmo, me terá deixado quase indiferente ou, pior ainda, sem palavras, tornando-se impossível descortinar e acompanhar passo a passo, para além das óbvias e consabidas qualidades do instrumentista, os meandros criativos que tanto me haviam fascinado na audição de Historicity, precisamente o disco a partir do qual o pianista e seus pares construiram o repertório deste concerto!
Há dias assim: em que não se deve sair de casa...
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Jazz no Parque
10.07.10 - Trio de Vijay Iyer
17.07.10 - Trio de Bernardo Sassetti Trio com Perico Sambeat
24.07.10 - Quinteto "Contact"
Fotos:
Quinteto "Contacto" (arquivo)
Restantes: "Jazz no Parque" (cortesia Fundação de Serralves e © Silvana Torrinha)
Em mais uma transmissão especial da rádio WBGO – estação de Nova Iorque associada da rádio pública norte-americana NPR – poderá ouvir online, na madrugada de hoje para amanhã, entre as 02:00 e as 03:00, uma actuação pelo trio de um mestre do piano, Barry Harris, constituído pelos impecáveis Ray Drummond (contrabaixo) e Leroy Williams (bateria), realizada no clube Village Vanguard.
É a certeza de uma hora de jazz clássico-moderno de primeira ordem, a não perder.
Amanhã, será possível no mesmo endereço fazer a descarga do mesmo concerto e guardá-lo para quando desejar voltar a ouvi-lo.
Um bónus especialíssimo: um excerto fabuloso do célebre documentário Jazz on a Summer’s Day (Real.: Bert Stern, 1958) rodado durante o Festival de Jazz de Newport do mesmo ano, com Anita O’Day (a.k.a. The Jezebel of Jazz) numa medley: Sweet Georgia Brown + Tea For Two, escolhido da sua actuação.
A capeline, as luvas brancas, o vestido negro... Um regalo!
Emitido em 1957:
(por ordem de entrada em cena)
Billie Holiday, voz;
Ben Webster, sax- tenor;
Lester Young, sax-tenor;
Vic Dickenson, trombone;
Gerry Mulligan, sax-barítono;
Coleman Hawkins, sax-tenor:
Roy Eldridge, trompete;
e ainda
Doc Cheatham, trompete; Mal Waldron, piano; Danny Barker, guitarra; Milt Hinton, contrabaixo.
Link solidário
O Tempo das Cerejas (novo link)
Links com Jazz
Cinco Minutos de Jazz (Antena 1 - Podcast)
Dave Douglas (Artist Thoughts)
Destination-Out (Jeff Jackson, NPR MUsic)
Escola de Jazz de Torres Vedras
Escola de Jazz do Barreiro (Alunos)
Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo (ESMAE)
Jazz com brancas (Antena 2 - Podcast)
Night After Night (Steve Smith - Time Out, NY)
NPR Jazz Site (National Public Radio, EUA)
Oh não! Mais um blog sobre jazz!
Secret Society (Darcy James Argue)
Thelonius Monk Institute of Jazz